sábado, 17 de dezembro de 2011

Karlie Kloss e a polêmica da Vogue


 É impossível falar de moda sem falar das modelos, e da influência que seus corpos magros causa na população feminina. Como disse a fantástica Lea T em uma entrevista, o mundo da moda é cruel. E eu concordo plenamente com isso. Apesar de gostar muito de moda e acreditar que as roupas são mais do que simples vestimentas mas sim parte da nossa personalidade e uma maneira de se comunicar com o mundo, não posso negar as peças de valores absurdos, as modelagens que só caem bem em pau de virar tripa na passarela, as tendências que parecem obrigar ao invés de orientar e, obviamente, corpos que nenhuma pessoa que faz mais de 3 refeições por dia tem facilidade em manter.
E um desses corpos causou polêmica recentemente. O ensaio de Karlie Kloss (que na foto acima parece no desfile da Victoria's Secrets) na Vogue Itália causou auê no mundinho fashion porque nas fotos a modelo mostra a sua magreza, com costelas aparecendo em uma das fotos (o ensaio inteiro pode ser visto aqui), o que gerou acusações de que o ensaio seria uma apologia à anorexia, lembrando que há meses atrás a mesma Vogue fez um belíssimo ensaio sensual com modelos plus size.
A magreza de Karlie me chamou muito mais atenção no desfile da Victoria's Secrets do que no ensaio propriamente dito. Ver ela caminhando pela passarela com ossos tão salientes no quadril me assustou, e olha que eu sou uma pessoa que admira mulheres magras. E foi justamente o comentário da editora da Vogue Itália em relação a Victoria's Secrets que me chamou a atenção: segundo ela, Karlie está em forma e saudável, e a justificativa foi o fato de que a modelo está no casting da marca de lingerie, uma marca que valoriza mulher reais. Agora, me expliquem onde ela vê uma mulher real nisso:


A impressão que eu tenho é que as angels são ainda mais irreais do que as outras modelos. Além de belas e magras, precisam ter seios fartos, corpo torneado, um bronzeado dourado, ausência de celulite, belos e longos cabelos sedosos e ainda fazer carinha de me-chama-de-gatinha-que-eu-faço-miau.
Querida Franca Sozzani, teria sido melhor ficar quieta a dizer isso. Teria sido melhor qualquer coisa, na verdade. Essa declaração me faz pensar que quem trabalha com moda realmente desconhece a mulher real. Desconhece o corpo da mulher real, com declarações assim, desconhece o cotidiano da mulher real, com saltos imensos e roupas desconfortáveis, desconhece as necessidades da mulher real, lançando coleções estapafúrdias, e desconhece também o salário da mulher real, com suas coleções que lançam a uma tendência tem-que-ter-senão-é-out a cada estação. E isso transforma algo que deveria ser arte em sacrifício. E claro que me encaixo nas vítimas dessa massacrante indústria. Todo mundo, em algum momento da vida, já se pegou fazendo dieta para ficar bem em um vestido ou deixando de gastar com livros para comprar aquela bolsa nova. Acho que essa polêmica da Karlie deveria se estender para todos os aspectos que a moda impõe, não apenas a magreza e a possível anorexia que as fotos podem causar. Para que assim a gente possa tornar a moda a nossa aliada, e não nossa carrasca.

3 comentários:

  1. Ótimo texto, Bruna, e um assunto sempre sério e que merece discussão. Como muita gente, eu também fui - e sou de vez em quando, claro - vítima da opressão dos padrões, também sofrendo por não reconhecer minha "realidade" na realidade das revistas.

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  2. Não me vejo nas revistas em nenhum aspecto, desde físico a financeiro. Esses dias vi o absurdo de um algodão da Chanel pra tirar maquiagem, com o logotipo da marca estampado. Chega a ser doentio.

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  3. Blog falando sobre a polêmica do algodão da Chanel. http://www.garotasmodernas.com/2011/01/algodao-chanel-os-criticos-de.html

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